Casulo

Não me lembro da última vez que fiz essa afirmação, mas “hoje eu só quero acordar amanhã”!

É um misto de medo do mundo, peso nas pernas, receio da claridade. Meus olhos nem querem ficar abertos. Minha boca não está afim de falar. Minha mente não trabalha hoje, parece até feriado. Meus braços pesam, as pernas nem se mechem. Meu corpo não me ama. Até me obedecem, mas não dei ordem alguma de movimento. Não consigo.

Acordei, consegui movimentar meus olhos que se abriram cerradamente, rapidamente, e insistentemente continuei deitada, coberta, de olhos fechados, sem pensamento algum.

Vaguei na imaginação de que era um dia comemorável, um lindo e belo dia. Imaginei espreguiçando-me sentada na cama e logo correndo ao armário para separar aquela roupa especial para aquele dia e indo tomar um delicioso banho. Ainda me vi pronta para viver tudo que este dia me prometia.

Mas logo perdi a ilusão e achei a realidade. Antes tivesse comprado um pouco mais de ilusão no mercado ontem. Penso que me iludindo eu teria um dia cheio de coragem e, novamente, caio na real.

Poxa! Eu nem deveria ter acordado hoje. Se pudesse vegetaria por um belo tempo. Mas, não! Não hoje, garota! Não agora!

Meu conto de fadas ainda não começou, não tenho um banquete a minha espera, não tenho uma escada enorme para descer até chegar a ela, não tenho um lindo jardim com uma carruagem em forma de abóbora e nem sapatinho de cristal para perder. Não tem nem príncipe, imagine um daqueles bichinhos de estimação que toda princesa tem.

Nada ainda conquistei.

Nem o meu castelo imaginário.

Aquele que não é enorme, cheio de escadas e quartos e mordomos, como nos filmes da Disney. Mas aquele simples e aconchegante, pronto para nós dois e o nosso futuro. Somente com a cama, a Tv, o fogão e a geladeira para a garantia da nossa saciedade.

Não posso me dar ao luxo de me entregar ao desânimo quando muito ainda tenho a desbravar nesse mundo, quando ainda tenho uma terra à descobrir, uma joia à lapidar, um hino a criar, uma nação à desenvolver. Imagine que você seja o mundo, seu coração a terra, o nosso futuro a joia, o hino a nossa música e a nação nossa família - não enorme assim, tá?! - e veja se eu não tenho razão, meu amor ainda desconhecido! 

Veja se eu posso ter esse desfrute de ficar aqui aconchegada na minha cama enquanto você continua a me procurar, enquanto você está ai meio deprê por que ainda não me achou.

Eu sei, meu amor, tenho que levantar todos os dias e me manter disposta para que em algum momento – e eu sei que ele há de chegar -  nossos caminhos se cruzem e finalmente a gente se encontre.

Mas para isso já vou deixar a cama pronta e o coração também.

Nos vemos em breve, agora, vou sair do meu casulo.