Fui amada
Ele me amou. Eu sei.
A cada semana me escrevia uma
carta e sempre tinha o cuidado de ele mesmo me entregar.
Eram sempre embaladas por letras
do Legião Urbana e poemas que ele mesmo escrevia para tentar descrever aquele
louco sentimento pela menina da escola. Ele estava entregue e era transparente
em seus sentimentos. Ele amava o que eu era e havia algo bom em mim que despertava isso.
Eu achava fofo, mas confesso que
não dei valor ao seu sentimento. Por vezes não quis aceitar que o que ele
sentia estava passando de amizade. Ao mesmo tempo que ele gostava de mim eu
gostava do amigo dele, sem nem ao menos termos trocado uma única palavra
.
Um dia desses, voltando para
casa, ele me confessou que sabia dos meus sentimentos quanto ao amigo e me
questionou como eu poderia gostar de alguém que eu nem conhecia de verdade.
Sua pergunta parecia um apelo:
Perceba que eu lhe conheço e você me conhece!
Ponderei, pensei, não tive
argumentos.
Fui vencida de que não teria chance
alguma naquele amor platônico daquela menina de 13 anos, mas também não dei
chances à quem em amava.
Carrego isso até hoje. Imagino o
quanto ele sofreu para se recuperar da decepção que lhe causei. Talvez eu tenha
sido sua primeira paixonite de criança. Talvez eu também tenha o ensinado a não
se entregar tanto. Mas talvez eu tenha deixado seu coração fechado.
Eu sei. A vida nos prega peças e as vezes o quebra cabeça
não encaixa, os sentimentos não são correspondidos e os caminhos são opostos.
O amor veio, chegou, bateu a porta, pediu para entrar e eu,
simplesmente, caminhei pelo lado contrário.
Não posso afirmar que teria sido feliz se tivesse retribuído
o amor, mas acho que, naquele tempo, eu teria sido um tanto feliz com ele.
As cartas estão guardadas –e continuarão guardadas- com
muito carinho.
Um amor recebido assim não se pode esquecer.
Suas palavras tão sinceras são a prova de que é possível ser
amado e que é possível o dizê-lo sem receio, mesmo que não tenha o retorno
esperado.
Eu fui amada e deixei-o ir.
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